sábado, 7 de março de 2009

" I remember a time
My frail, virgin mind
watched the crimson sunrise
Imagined what it might find
Life was filled with wonder
I felt the warm wind blow
I must explore the boundaries
Transcend the depth of winter's snow"

Dream Theater - A Change of Seasons

I - Esperança

Estava frio quando as primeiras estrelas surgiram no céu, uma fina garoa batia em meu rosto, fazendo parecer que iria congelar a qualquer momento. Lembro-me que tudo que queria era chegar ao “McTyler’s Tavern”, um pequeno bar do vilarejo, onde as pessoas iam em noites como essas para desfrutar de uma boa cerveja e comer um ótimo pernil de porco assado. Eu pessoalmente, acostumado com o que alguém de minha posição social podia desfrutar, nunca achei que a cerveja fosse tão boa, ou o porco tão suculento como aquelas pessoas simples achavam. Mas de qualquer forma, eu não iria esse noite para apreciar os “comes e bebes” do local, não...não era por isso. Iria lá somente para tentar vê-la novamente.

Avisto a taverna de longe, sinto um arrepio na espinha, acompanhado de um frio na boca do estomago. Recordo-me que me perguntei se era devido ao frio intenso, ou se estava novamente passando por “aquilo”. Apenas sorri, eu já sabia a resposta.

Entro na taverna, e a primeira coisa que penso é “aqui definitivamente servem porcos”, não que a taverna fosse suja, mas se fosse comparar aos lugares que eu poderia estar agora, definitivamente esse lugar seria chamado de pocilga.

Olho a minha volta, as poucas mesas perto da lareira a esquerda já estavam ocupadas, sobrando somente uma mesa, escondida no canto direito da sala, longe do balcão. Sento-me à mesa, o frio insistente não passa, penso já ser loucura vir a um lugar como esse por alguém que mal sabe que existo. Não a vejo em lugar algum, hoje quem atende os pedidos dos clientes é um velho senhor, aparentemente tão velho quanto as pedras que essa taverna foi construída, e no balcão uma jovem garota, talvez neta do ancião.

Espero por um tempo, o frio cada vez mais incomodo, resolvo chamar o ancião, esperando que o vinho da casa seja melhor que a cerveja experimentada na noite anterior.

Ergo a mão ao notar que o velho passa por perto, tentando ser notado.

- Com sua licença, Senhor! – falo timidamente, mais para mim mesmo do que tentando chamar a atenção de alguém, porém o velho consegue me ouvir. Juro que me surpreendi...

- “Com sua licença, Senhor”? – tão surpreso quanto eu, quando descobri que ele me ouvia – Definitivamente você não é daqui, meu jovem, e a julgar pelas suas roupas, tão pouco deveria estar aqui. Mas, já que não estou aqui para saber quem você é, ou de onde vem, o que deseja?

- Sim, não sou daqui, Senhor. Vim do condado vizinho, estou só passando uns dias no vilarejo, antes de voltar para casa.

Menti, eu realmente não era desse lugar, mas não havia como, simplesmente, eu dizer ao velho que tinha viajado duas horas a cavalo somente para ver a garçonete que havia visto na noite anterior, quando havia chego a cidade para recolher os impostos.

- Poderia me trazer um pouco de vinho quente? Estou congelando aqui. Ah! Um pouco de pernil também será bem aceito.

Realmente eu estava congelando ali, e como estava tarde para cavalgar de volta para casa , resolvi que seria melhor me aquecer por um tempo, antes de tentar achar uma hospedaria, se é que havia alguma nesse lugar.

- Trarei sua comida assim que for possível, jovem. Falou o velho, já se afastando.

Observei o velho atravessar o salão, movendo-se vagarosamente, como se cada ano de vida pesasse toneladas sobre seus ombros. Senti uma certa pena do ancião, tendo que trabalhar até essa idade, sem ter uma expectativa de melhora na vida. Mas meus pensamentos foram afastados quando o velhinho chegou à porta que dava para a cozinha, depois do balcão. Ela estava lá, na cozinha. Pude vê-la só de relance, por um momento achei que meus olhos estavam me traindo, mas não, tinha certeza que ela estava lá, ao vê-la, não pude conter um sorriso. Agora só restava saber como falar com ela.

*************

Passaram-se um bom tempo até que o vinho e o porco chegasse a minha mesa, nesse tempo, pude vê-la mais duas vezes, sempre muito rápido, quando ela ia até o balcão entregar um dos pedidos ao “atendente”.

Já estava ficando tarde, estava perdendo as esperanças de falar com ela essa noite, mas de repente tive uma idéia, só não sabia se seria uma boa idéia.

Chamei o “garçom” novamente:

- Velho, poder vir aqui? Disse um pouco mais alto que da outra vez.

- “Velho”? Vejo que o vinho já esta fazendo efeito, jovem. Pode me chamar de McTyler, sou o dono dessa taverna.

Disse o velho, sorrindo um bocado. Talvez o vinho havia feito efeito nele também.

- Poderia me trazer mais vinho e pernil? Realmente está muito delicioso! Quem fez essa carne? É uma das mais gostosas que já experimentei.

Exagerei um pouco, tentando parecer convincente.

- Trarei sua comida, garoto. Quem fez essa carne foi minha sobrinha, filha mais velha de meu irmão, Katherine é o nome dela.

- Realmente é muito boa comida. – disse suavemente – Será que teria como eu falar com a cozinheira? Eu conheço pessoas da realeza, por assim dizer, e poderia leva-la para trabalhar para algum nobre, na cidade.

O velho olhou-me com caras de poucos amigos e resmungou entre os dentes.

- Trarei sua comida daqui a pouco, mas não espere levar minha Katherine para lugar nenhum, está entendendo?

Notei certa fúria em seus olhos, imaginei quantos aproveitadores já havia usado de “estratégias” parecidas para conseguir algo com ela.

***************

A taverna foi se esvaziando, na verdade só havia dois bêbados e eu. Estava empanturrado de porco e vinho, quando a porta da cozinha se abriu novamente.

Era ela, linda, mesmo para alguém que trabalhou em uma cozinha a noite inteira, sem descanso e privada do sono. Seus cabelos loiros e lisos brilhavam num tom dourado sob as luzes das lamparinas. Era alta, magra, com seios fartos, lembro-me até hoje que seu decote me hipnotizava tanto quando seus olhos verdes.

De repente, ouço um barulho em minha mesa, acordo de meus sonhos. Era o velho, que estava parado à minha frente, e nem sequer percebi que ele havia se aproximado.

- Vamos garoto, está tarde e já estamos fechando. Você disse que não é daqui, então, o máximo que posso fazer por você, é indicar a hospedaria que fica na maior casa, a direita daqui. Se tiver sorte de achar um quarto onde consiga dormir, aproveite, mas agora, você deve sair.

Peguei algumas moedas e coloquei sobre a mesa, enquanto o velho já “corria” para ajudar a sua “querida Katherine” com um dos bêbados que não acordava. Aí tive uma idéia.

Removi meu anel, o anel de minha família, um anel de prata com o símbolo da família Reid incrustado. Pensei novamente que já era loucura demais, mas ao mesmo tempo era mais forte do que eu, era algo que eu precisava fazer, e com isso, deixei meu anel em cima do banco, saindo da taverna em seguida.

Fui para a hospedaria...

Não me recordo muito bem como cheguei na hospedaria, nem como entrei no quarto, só me lembro que era um dos piores quartos que dormi em minha vida. Com seus colchões de palha fedendo a mofo e com famílias inteiras de pulgas vivendo neles, e somente algumas peles de carneiro para aquecer do frio. Com certeza o efeito de algumas doses do vinho me ajudaram a dormir naquela noite. Inacreditavelmente dormi bem, aliviado por vê-la novamente, e ao mesmo tempo me sentindo um idiota por ter largado o anel da família a troco de “nada”, ou ao menos assim eu pensava.

Pela manhã, acordo com batidas em minha porta, penso por um instante que alguém deveria criar uma lei contra pessoas que acordam as outras sem solicitação, e que a pena deveria ser passível de decapitação.

Cubro a cabeça com o travesseiro de penas, mas as batidas na porta continuam, incessantemente.

Levanto-me furioso.

- Já vai! Já vai! – falo praticamente gritando, e abro a porta.

- Desculpa se vim em má hora, Senhor Reid, mas creio que isso lhe pertence...

Era ela...com meu anel.

3 comentários:

  1. Já que só leio livros no trabalho, acompanho seu blog e leio a história muito boa por sinal em casa. gostei mesmo.

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  2. OMG

    Ele é bobo, mas deu certo. Queria que coisas assim funcionassem na vida real.

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  3. Muito bom mesmo.
    Sua escrita é otima e sua descriçãoperfeita.

    Parabens Rapha,gostei MUITO.

    Vou para o proximo capitulo *.*

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