segunda-feira, 23 de março de 2009

" Hunt you down without mercy
Hunt you down all nightmare long
Feel us breathe upon your face
Feel us shift, every move we trace
Hunt you down without mercy
Hunt you down all nightmare long"

Metallica - All Nightmare Long

III – Revelações

Estava confuso com tudo que ouvia, afinal, quem era ela? O que aconteceu com sua mãe a anos atrás? O que diabos ela havia se tornado? E porque não podia parar?

Encostei-me contra a parede da casa, tentando pensar em alguma coisa, querendo me acalmar, mas não conseguia imaginar respostas para isso. Decidi que o melhor agora não seria interromper essa conversa batendo à porta da casa e resolvi voltar para a hospedaria.

Não consegui dormir naquela noite, ainda tentando imaginar o que teria feito aquilo ao tio de Katherine, ou Katz como seu pai a havia chamado. O dia estava clareando, olho pela janela do quarto e já posso ver o movimento dos trabalhadores que iniciavam sua árdua jornada nos campos. Já não conseguia mais ficar naquele quarto com tantas perguntas, precisava conversar com ela, quando subitamente ouço um grito apavorado de uma mulher vindo da rua.

Visto-me o mais rápido possível, e corro em direção ao grito, com a intenção de ver quem corria perigo, e se eu poderia ajudar de alguma forma, e no fundo com vontade de ver se foi a mesma pessoa que assassinou o tio de Katherine.

Aproximo-me, mas não pude ver de primeira vista o que estava acontecendo devido a algumas pessoas que já estavam mais próximas se aglomerarem no local, mas pude notar que havia uma mulher chorando, quase que em estado de choque.

Abro caminho entre as pessoas que estavam à minha frente, e novamente, a cena que eu vi ficou em minha mente durante anos.Era o velho bêbado que estava na taverna em uma das noites, o mesmo que me informou que o tio de Katherine havia sido assassinado. Seu corpo havia sido completamente destruído, não havia nem sinal do que um dia foram suas pernas, completamente arrancadas de seu corpo. Havia sangue esparramado em todos os lados, haviam poucos ossos em seu corpo que pareciam inteiros, era como se tivesse sido arremessado contra uma parede de pedras. Nunca tinha visto nada assim, as pessoas em minha volta já começam a falar que o vilarejo estava amaldiçoado, que isso era coisa do demônio e que todos da vila estavam condenados.

Desvio meus olhos do corpo por um instante, pensando nesse momento que deveria ir conversar com Katherine, quando eu a vejo observando de longe, tentando não ser notada. Sua aparência não era como das outras vezes que nos vimos, toda aquela vitalidade e alegria se foram, sendo substituído por uma expressão de ódio.

Ela não repara que eu podia vê-la, mas de qualquer forma se afasta do local, indo em direção a sua casa.

Sigo-a a distância até um determinado ponto por entre as casas, tentando não ser notado de nenhuma forma, até que de repente ela para, fica imóvel no centro da rua, e sem olhar para trás diz num tom suave, sem medo, confiante:

- Reid, sei que está aí...siga-me.

Ela não havia me visto, mas sabia que eu estava ali de alguma forma, “como isso seria possível?” eu meu pergunto. Saio de trás de um barril no qual estava escondido enquanto a seguia e sem dizer uma palavra vou para o seu lado, simplesmente não sabia o que dizer.

- Não se preocupe, não é a mim que precisa temer. – ela diz em um tom sério, com seu olhos completamente voltados para o horizonte, caminhando lentamente como se não visse nada a sua volta.

Ela me conduz até uma clareira em um bosque próximo ao vilarejo. Ela pára e me encara, dizendo seriamente:

- Você precisa deixar a cidade agora, Reid. Todos na cidade correm perigo, e não quero que...

- Que tipo de perigo você está falando? Eu sei que você sabe o que está acontecendo por aqui, então não me venha com essa conversa de que eu “tenho que deixar a cidade agora”, é melhor me contar o que está acontecendo por aqui.

Nem eu mesmo acreditei na forma que falei com ela, mas estava nervoso, eu sabia que ela escondia algo, só que eu não poderia simplesmente deixá-la correr perigo sozinha, se eu pudesse ajudá-la, eu faria.

- Você não tem idéia do que está acontecendo Reid, isso aqui não é brincadeira, duas pessoas já morreram, e se ...se...se eu não fizer algo, muitas mais morrerão.

- Então quanto mais rápido você responder minhas perguntas, mais rápido posso te ajudar! Quem está fazendo isso? Porque é você que tem que fazer algo para isso parar?

- Desculpa Thomas, mas eu não posso te envolver nisso! Não seria justo!! – uma lagrima escorre de seus olhos, seu rosto era de pura aflição.

Eu a abraço forte, fazendo carinho em seus cabelos dourados, olho em seus olhos e peço:

- Deixe eu te ajudar, não se preocupe comigo, é isso que eu quero, quero poder te ajudar. E se isso é algo tão perigoso, você acha mesmo que eu iria simplesmente me acalmar e ir embora daqui, largando-a dessa forma? – dou um pequeno sorriso para ela, para demonstrar que estaria com ela a qualquer custo.

- Tem coisas que você não entenderia, Thomas, eu não sou o que pareço ser, eu faço e vejo coisas que você nunca imaginou existir....eu tenho..

Ela pára de falar subitamente, e de novo parecer olhar o horizonte, como se eu não estivesse mais ali. Pude sentir um forte cheiro, um cheiro pútrido, azedo. Senti enjôo na mesma hora, tentei me controlar o quanto pude, mas o cheiro era insuportável, forçando-me a cobrir o rosto com a manga da camisa. Procurei a minha volta de onde vinha esse cheiro, mas não pude ver nada, mas sentia que havia algo perto.

- Vamos, você precisa sair daqui agora – diz Katherine, num tom nervoso, irritado – Vá!! – me empurrando fortemente, fazendo que cair a metros de distância de onde eu estava, mal consegui acreditar em tamanha força.

Nesse instante, Katherine retira de entre seus seios um pequeno medalhão, e o arremessa para mim.

- Coloque em volta do seu pescoço, isso vai protegê-lo. Vamos coloque agora! – ela diz em tom imperativo, porém assustada ao mesmo tempo, esperando que algo de ruim acontecesse a qualquer momento.

Pego o medalhão que caiu no chão próximo da onde eu estava. Era um medalhão feito em prata, em formato circular, onde havia o desenho de um pentagrama com um olho fechado em seu centro. Sinto uma sensação estranha ao tocá-lo, era como se eu perdesse um pouco de minhas forças, mas coloco em volta do pescoço, como ela havia pedido, em partes por curiosidade e em partes por confiar naquela pessoa na qual eu nada sabia.

- Agora vá! Se esconda! – ela ordena novamente.

Corro até uma grande árvore e me escondo atrás dela, entre o mato que estava próximo, nisso pude ver Katherine tirar um longo punhal que estava escondido por dentro da manga de seu vestido e se dirigir para o centro da clareira.

- Vamos criatura imunda, eu sei que você está por perto nos observando, apareça agora ou farei com que mostre sua cara a força! – Grita Katherine com ódio, transtornada, nem parecia a mesma Katherine de antes.

Nada acontece, nem um sinal de algo próximo, um silêncio total se abatia no lugar parecendo que até os animais do bosque haviam partido, nenhum vento soprava, nada....era como se o tempo ficasse inerte naquele momento.

Ela berra novamente:

- É o seu ultimo aviso, ser das Trevas. Apareça por sua própria vontade, ou irá se confrontar contra a MINHA vontade. – ela respirava profundamente, seus olhos acompanhavam pontos na clareira onde eu nada enxergava.

Nada acontece novamente, o silêncio total continua, mas em mim a sensação de que algo estava perto e nos observando aumentava, talvez inconscientemente, devido a certeza que Katherine tinha de haver algo aqui.

- Eu avisei criatura, agora obrigarei você a aparecer, e lhe garanto que não irá aparecer para mais ninguém,nunca mais.

Katherine, com o punhal, corta a palma de sua mão esquerda de um lado a outro, nenhum sinal de dor ou qualquer tipo de emoção passa pelo seu rosto nesse momento. Ela atira o punhal sujo de sangue no chão, ao seus pés, cravando-o no solo úmido do bosque, enquanto com o sangue que escorre de sua mão esquerda desenha símbolos que eu nunca havia visto nas costas de sua mão direita e em sua testa, e depois grita:

- Spiritus Imundus, mostre a sua face perante mim. Meu sangue o invoca. Minha vontade o fará concreto e minha força o destruirá!

Os símbolos que estavam desenhados em sua mão e testa começam a brilhar em um tom avermelhado, ela soca a adaga cravada no chão com fúria usando seu punho direito, e tamanha era sua força que ela some completamente enterrada no solo. O silêncio se abate novamente no local, aparentemente nada acontece.

De repente, um fino facho de luz brota de onde a adaga foi enterrada, toda a vegetação em volta do buraco começa a murchar, a temperatura da clareira se eleva absurdamente a ponto de fazer meu corpo começar a suar quase que instantaneamente. Começa a haver pequenos focos de incêndio em partes da vegetação que secou. Katherine permanecesse imóvel no centro da clareira enquanto tudo a sua volta seca, enquanto eu, um pouco mais longe da área afetada, apenas observo imóvel.

Noto que da fumaça gerada pelos pequenos focos de incêndio começa a formar a silhueta de um ser com formato humanóide, ainda indistinguível de detalhes a essa distância.

- Viu como eu disse que você se mostraria à mim de uma forma ou de outra, pequeno Myistf’s – diz Katherine em um tom sarcástico, dando seu “sorriso-torto” para aquele ser que surgia a sua frente, completamente sem medo, como tivesse a certeza de sua superioridade.

A silhueta termina de se formar, tornando-se uma criatura com pelo menos o dobro do tamanho de Katherine, tanto em altura quanto músculos.

Seu corpo era cinza e musculoso, feridas purulentas brotavam em partes de seu corpo e logo em seguida se fechavam, para então aparecerem em alguma outra parte, deixando um cheiro de podre no ar. Seu rosto possuía olhos negros, sem sinal de íris, não possuía um nariz ou algo que fizesse lembrar a isso, sua boca tinha centenas de minúsculos dentes serrilhados, porém com dois grandes caninos na parte inferior. Seus braços possuíam longas garras de unhas negras.

O ser fixa seu olhar nos olhos de Katherine e começa a emitir sons que faziam lembrar risadas, porém num tom extremamente gutural.

- Então é você que tem me rastreado todas as noites, pequena caçadora....o que acha que pode fazer contra mim, sua vadiazinha.

Katherine não diz uma palavra. Estende a mão em direção ao facho de luz que ainda era emitido do buraco onde o punhal se encontra e emite uma palavra – “Ignus” ela diz – com isso o punhal que ali se encontra cravado começa a surgir da terra no formato de uma grande espada. Katherine toca em sua empunhadura e sorri:

- “O que posso fazer?”, você me pergunta, seu verme, eu exterminarei você.

Retirando a espada que estava cravada na terra, Katherine aponta a grande espada flamejante em direção ao ser.

- Vamos começar...

4 comentários: