segunda-feira, 23 de março de 2009

" Hunt you down without mercy
Hunt you down all nightmare long
Feel us breathe upon your face
Feel us shift, every move we trace
Hunt you down without mercy
Hunt you down all nightmare long"

Metallica - All Nightmare Long

III – Revelações

Estava confuso com tudo que ouvia, afinal, quem era ela? O que aconteceu com sua mãe a anos atrás? O que diabos ela havia se tornado? E porque não podia parar?

Encostei-me contra a parede da casa, tentando pensar em alguma coisa, querendo me acalmar, mas não conseguia imaginar respostas para isso. Decidi que o melhor agora não seria interromper essa conversa batendo à porta da casa e resolvi voltar para a hospedaria.

Não consegui dormir naquela noite, ainda tentando imaginar o que teria feito aquilo ao tio de Katherine, ou Katz como seu pai a havia chamado. O dia estava clareando, olho pela janela do quarto e já posso ver o movimento dos trabalhadores que iniciavam sua árdua jornada nos campos. Já não conseguia mais ficar naquele quarto com tantas perguntas, precisava conversar com ela, quando subitamente ouço um grito apavorado de uma mulher vindo da rua.

Visto-me o mais rápido possível, e corro em direção ao grito, com a intenção de ver quem corria perigo, e se eu poderia ajudar de alguma forma, e no fundo com vontade de ver se foi a mesma pessoa que assassinou o tio de Katherine.

Aproximo-me, mas não pude ver de primeira vista o que estava acontecendo devido a algumas pessoas que já estavam mais próximas se aglomerarem no local, mas pude notar que havia uma mulher chorando, quase que em estado de choque.

Abro caminho entre as pessoas que estavam à minha frente, e novamente, a cena que eu vi ficou em minha mente durante anos.Era o velho bêbado que estava na taverna em uma das noites, o mesmo que me informou que o tio de Katherine havia sido assassinado. Seu corpo havia sido completamente destruído, não havia nem sinal do que um dia foram suas pernas, completamente arrancadas de seu corpo. Havia sangue esparramado em todos os lados, haviam poucos ossos em seu corpo que pareciam inteiros, era como se tivesse sido arremessado contra uma parede de pedras. Nunca tinha visto nada assim, as pessoas em minha volta já começam a falar que o vilarejo estava amaldiçoado, que isso era coisa do demônio e que todos da vila estavam condenados.

Desvio meus olhos do corpo por um instante, pensando nesse momento que deveria ir conversar com Katherine, quando eu a vejo observando de longe, tentando não ser notada. Sua aparência não era como das outras vezes que nos vimos, toda aquela vitalidade e alegria se foram, sendo substituído por uma expressão de ódio.

Ela não repara que eu podia vê-la, mas de qualquer forma se afasta do local, indo em direção a sua casa.

Sigo-a a distância até um determinado ponto por entre as casas, tentando não ser notado de nenhuma forma, até que de repente ela para, fica imóvel no centro da rua, e sem olhar para trás diz num tom suave, sem medo, confiante:

- Reid, sei que está aí...siga-me.

Ela não havia me visto, mas sabia que eu estava ali de alguma forma, “como isso seria possível?” eu meu pergunto. Saio de trás de um barril no qual estava escondido enquanto a seguia e sem dizer uma palavra vou para o seu lado, simplesmente não sabia o que dizer.

- Não se preocupe, não é a mim que precisa temer. – ela diz em um tom sério, com seu olhos completamente voltados para o horizonte, caminhando lentamente como se não visse nada a sua volta.

Ela me conduz até uma clareira em um bosque próximo ao vilarejo. Ela pára e me encara, dizendo seriamente:

- Você precisa deixar a cidade agora, Reid. Todos na cidade correm perigo, e não quero que...

- Que tipo de perigo você está falando? Eu sei que você sabe o que está acontecendo por aqui, então não me venha com essa conversa de que eu “tenho que deixar a cidade agora”, é melhor me contar o que está acontecendo por aqui.

Nem eu mesmo acreditei na forma que falei com ela, mas estava nervoso, eu sabia que ela escondia algo, só que eu não poderia simplesmente deixá-la correr perigo sozinha, se eu pudesse ajudá-la, eu faria.

- Você não tem idéia do que está acontecendo Reid, isso aqui não é brincadeira, duas pessoas já morreram, e se ...se...se eu não fizer algo, muitas mais morrerão.

- Então quanto mais rápido você responder minhas perguntas, mais rápido posso te ajudar! Quem está fazendo isso? Porque é você que tem que fazer algo para isso parar?

- Desculpa Thomas, mas eu não posso te envolver nisso! Não seria justo!! – uma lagrima escorre de seus olhos, seu rosto era de pura aflição.

Eu a abraço forte, fazendo carinho em seus cabelos dourados, olho em seus olhos e peço:

- Deixe eu te ajudar, não se preocupe comigo, é isso que eu quero, quero poder te ajudar. E se isso é algo tão perigoso, você acha mesmo que eu iria simplesmente me acalmar e ir embora daqui, largando-a dessa forma? – dou um pequeno sorriso para ela, para demonstrar que estaria com ela a qualquer custo.

- Tem coisas que você não entenderia, Thomas, eu não sou o que pareço ser, eu faço e vejo coisas que você nunca imaginou existir....eu tenho..

Ela pára de falar subitamente, e de novo parecer olhar o horizonte, como se eu não estivesse mais ali. Pude sentir um forte cheiro, um cheiro pútrido, azedo. Senti enjôo na mesma hora, tentei me controlar o quanto pude, mas o cheiro era insuportável, forçando-me a cobrir o rosto com a manga da camisa. Procurei a minha volta de onde vinha esse cheiro, mas não pude ver nada, mas sentia que havia algo perto.

- Vamos, você precisa sair daqui agora – diz Katherine, num tom nervoso, irritado – Vá!! – me empurrando fortemente, fazendo que cair a metros de distância de onde eu estava, mal consegui acreditar em tamanha força.

Nesse instante, Katherine retira de entre seus seios um pequeno medalhão, e o arremessa para mim.

- Coloque em volta do seu pescoço, isso vai protegê-lo. Vamos coloque agora! – ela diz em tom imperativo, porém assustada ao mesmo tempo, esperando que algo de ruim acontecesse a qualquer momento.

Pego o medalhão que caiu no chão próximo da onde eu estava. Era um medalhão feito em prata, em formato circular, onde havia o desenho de um pentagrama com um olho fechado em seu centro. Sinto uma sensação estranha ao tocá-lo, era como se eu perdesse um pouco de minhas forças, mas coloco em volta do pescoço, como ela havia pedido, em partes por curiosidade e em partes por confiar naquela pessoa na qual eu nada sabia.

- Agora vá! Se esconda! – ela ordena novamente.

Corro até uma grande árvore e me escondo atrás dela, entre o mato que estava próximo, nisso pude ver Katherine tirar um longo punhal que estava escondido por dentro da manga de seu vestido e se dirigir para o centro da clareira.

- Vamos criatura imunda, eu sei que você está por perto nos observando, apareça agora ou farei com que mostre sua cara a força! – Grita Katherine com ódio, transtornada, nem parecia a mesma Katherine de antes.

Nada acontece, nem um sinal de algo próximo, um silêncio total se abatia no lugar parecendo que até os animais do bosque haviam partido, nenhum vento soprava, nada....era como se o tempo ficasse inerte naquele momento.

Ela berra novamente:

- É o seu ultimo aviso, ser das Trevas. Apareça por sua própria vontade, ou irá se confrontar contra a MINHA vontade. – ela respirava profundamente, seus olhos acompanhavam pontos na clareira onde eu nada enxergava.

Nada acontece novamente, o silêncio total continua, mas em mim a sensação de que algo estava perto e nos observando aumentava, talvez inconscientemente, devido a certeza que Katherine tinha de haver algo aqui.

- Eu avisei criatura, agora obrigarei você a aparecer, e lhe garanto que não irá aparecer para mais ninguém,nunca mais.

Katherine, com o punhal, corta a palma de sua mão esquerda de um lado a outro, nenhum sinal de dor ou qualquer tipo de emoção passa pelo seu rosto nesse momento. Ela atira o punhal sujo de sangue no chão, ao seus pés, cravando-o no solo úmido do bosque, enquanto com o sangue que escorre de sua mão esquerda desenha símbolos que eu nunca havia visto nas costas de sua mão direita e em sua testa, e depois grita:

- Spiritus Imundus, mostre a sua face perante mim. Meu sangue o invoca. Minha vontade o fará concreto e minha força o destruirá!

Os símbolos que estavam desenhados em sua mão e testa começam a brilhar em um tom avermelhado, ela soca a adaga cravada no chão com fúria usando seu punho direito, e tamanha era sua força que ela some completamente enterrada no solo. O silêncio se abate novamente no local, aparentemente nada acontece.

De repente, um fino facho de luz brota de onde a adaga foi enterrada, toda a vegetação em volta do buraco começa a murchar, a temperatura da clareira se eleva absurdamente a ponto de fazer meu corpo começar a suar quase que instantaneamente. Começa a haver pequenos focos de incêndio em partes da vegetação que secou. Katherine permanecesse imóvel no centro da clareira enquanto tudo a sua volta seca, enquanto eu, um pouco mais longe da área afetada, apenas observo imóvel.

Noto que da fumaça gerada pelos pequenos focos de incêndio começa a formar a silhueta de um ser com formato humanóide, ainda indistinguível de detalhes a essa distância.

- Viu como eu disse que você se mostraria à mim de uma forma ou de outra, pequeno Myistf’s – diz Katherine em um tom sarcástico, dando seu “sorriso-torto” para aquele ser que surgia a sua frente, completamente sem medo, como tivesse a certeza de sua superioridade.

A silhueta termina de se formar, tornando-se uma criatura com pelo menos o dobro do tamanho de Katherine, tanto em altura quanto músculos.

Seu corpo era cinza e musculoso, feridas purulentas brotavam em partes de seu corpo e logo em seguida se fechavam, para então aparecerem em alguma outra parte, deixando um cheiro de podre no ar. Seu rosto possuía olhos negros, sem sinal de íris, não possuía um nariz ou algo que fizesse lembrar a isso, sua boca tinha centenas de minúsculos dentes serrilhados, porém com dois grandes caninos na parte inferior. Seus braços possuíam longas garras de unhas negras.

O ser fixa seu olhar nos olhos de Katherine e começa a emitir sons que faziam lembrar risadas, porém num tom extremamente gutural.

- Então é você que tem me rastreado todas as noites, pequena caçadora....o que acha que pode fazer contra mim, sua vadiazinha.

Katherine não diz uma palavra. Estende a mão em direção ao facho de luz que ainda era emitido do buraco onde o punhal se encontra e emite uma palavra – “Ignus” ela diz – com isso o punhal que ali se encontra cravado começa a surgir da terra no formato de uma grande espada. Katherine toca em sua empunhadura e sorri:

- “O que posso fazer?”, você me pergunta, seu verme, eu exterminarei você.

Retirando a espada que estava cravada na terra, Katherine aponta a grande espada flamejante em direção ao ser.

- Vamos começar...

sexta-feira, 13 de março de 2009

II – A Morte

Estava sem palavras, completamente pasmo por ela estar ali, na minha frente, e com meu anel. Esperava reaver meu anel com o velho a noite, sendo mais um pretexto para voltar à taverna, mas isso? Isso já era muito melhor do que eu poderia imaginar.

- Não vai me convidar para entrar, Sr. Reid?

Eu ainda embasbacado pelo o que acontecia, nem notei que estava sem camisa e com “calças de dormir” por assim dizer.

- Me...me desculpe, não esperava que você fosse aparecer, Srta. Mctyler. Por favor, entre...

Ela da um sorriso, um lindo sorriso “meio torto”, com um canto só dos lábios, meio misterioso. Sorriso esse que iria me cativar eternamente.

- Não prefere se vestir em trajes mais adequados? – falou apontando para minhas calças de dormir – Ou se preferir, eu posso entrar assim mesmo.

Ela entra no quarto e encosta a porta atrás dela, olhando dentro dos meu olhos, como se procurasse a ver quem eu realmente era, e o que queria somente investigando meu olhos. Olhando minha alma...

Fico envergonhado por estar vestido em trajes tão inadequados na frente de tão bela mulher, pego uma camisa que estava pendurada em uma camisa próxima a visto. Tento achar uma calça o mais rápido possível, mas não encontro, e realmente não lembro onde havia deixado na noite anterior...

- Não se preocupe Thomas, não ficarei por muito tempo, na verdade, só vim lhe entregar o seu anel....

Eu a interrompi perguntando, completamente espantado.

- Como você sabe o meu nome? Eu venho na cidade a anos recolher os impostos, mas nunca saio de dentro da carruagem da realeza, como você poderia saber que eu sou Thomas Reid?

Ela da uma boa risada, brincando com o anel por entre os dedos, como se fosse uma moeda nas mãos de um prestidigitador.

- Ora ,Sr. Reid, se assim preferir, você vem dois dias seguidos na taverna do meu tio, sendo que no primeiro dia não tirou os olhos de mim enquanto servia aquelas pessoas, no dia seguinte você volta a taverna novamente vestindo roupas que qualquer pessoa daqui trabalharia a vida inteira para conseguir comprar, e ainda deixa de propósito seu anel de família no banco do aposento, e devo dizer, com certeza meu tio não é nada atraente. Então, se você não estava querendo chamar a atenção dele, e sendo que minha irmã é pouco mais que uma criança, então devo presumir que era a minha atenção que você tentava atrair, estou enganada?

Engasgo de nervoso, nunca imaginava ter dado tão na cara assim que eu só estava lá por causa dela, fico sem reação, sem saber o que dizer, e realmente impressionado pela forma que ela notou tudo isso, e me pergunto novamente “Essa garota é real?”.

Ela estala os dedos, acordando-me de meus pensamento...

- Vai ficar aí sem falar nada? O que me diz, estou certa não estou? - ela diz novamente dando risada, como se fosse tudo uma grande piada.

- Si...sim...está certa. – tento firmar minha voz, para não parecer ainda mais idiota.

Me recomponho, olho fixamente nos olhos delas, sério, querendo demonstrar que não era uma piada, e muito menos que eu era mais um “cara qualquer” que estava ali só por “uma noite” com ela.

- Sim, Katherine, eu vim de longe por que desde o dia que eu lhe vi na taverna pela primeira vez, não consegui tira-la de meus pensamentos. Precisava conhecer você.

Novamente aquele sorriso torto brota em seus lábio. Ela para de brincar com o anel, e o atira para mim enquanto abre a porta do quarto.

- Vejo que também sabe o meu nome, Sr. Reid. Preciso ir agora...

Ela sai do quarto, e no ultimo instante, antes da porta bater, ela a abre novamente.

- Até de noite... – com seu sorriso torto nos lábios - ...creio que vá aparecer novamente essa noite, não é mesmo?

Antes que eu pudesse responder, a porta se fecha.

**

O dia custou a passar, fiquei a maior parte do tempo olhando para o teto do quarto, deitado na cama, esperando que anoitecesse o mais rápido possível só para vê-la.

Começo a me vestir calmamente. Coloco novamente meu anel no dedo, e vou à taverna. Quem sabe essa noite eu poderia conversar com ela um pouco mais, agora que ela sabe quem eu sou, e praticamente “me convidou” para ir lá essa noite.

Saio da hospedaria em direção a taverna com um mau pressentimento, com se alguma coisa não estivesse certa essa noite, estava um pouco angustiado.

Conforme fui me aproximando da taverna, fui tendo a certeza de que algo estava errado. Não havia pessoas na porta, não havia fumaça saindo pela chaminé da lareira, estava tudo escuro, nenhuma lamparina acesa. Uma pessoa passava ao meu lado, não pude deixar de notar a expressão de assustada em seu rosto, olhando para todos os lados, como se estivesse com medo de algo. Procuro por alguém perto para perguntar o que havia acontecido, e avisto um dos bêbados da noite anterior que estava caído na mesa quando fui embora.

- O que aconteceu? Por que a taverna está fechada? - pergunto ao bêbado, ansioso e angustiado ao mesmo tempo, novamente o mau pressentimento tomando conta de mim.

- Você não soube garoto? O velho morreu. Foi encontrado em sua casa essa tarde por sua sobrinha. Foi horrível, o estado que ele estava...

Ele deu um grande gole em uma garrafa, notavelmente querendo “esquecer” de algo.

- Diga, vamos, me diga! O que houve?! Katherine está bem? – Segurei o colarinho do bêbado com força, olhando nos olhos deles, tentando intimidar.

- Calma garoto, CALMA. – dando um soco na minha mão, se desvencilhando do agarrão – Ela está bem...não aconteceu nada com ela.

- Então me conte, o que aconteceu com o Sr. McTyler! Diga!

- Ele foi encontrado essa manhã, pela Srta. Katherine, morto em sua casa, como eu estava te dizendo. Seu peito estava aberto, como se suas costelas tivessem sido puxadas de dentro para fora, e havia marca de uma mordida em seu pescoço. Tinha sangue por todo lado, garoto, foi horrível, horrível mesmo. Provavelmente algum animal entrou na casa e atacou o Sr. McTyler quanto ele dormia.

Larguei o bêbado sentado no chão, e sai correndo em direção a hospedaria. Precisava descobrir onde Katherine morava, para saber se ela estava bem, e se nada havia acontecido com ela realmente.

Chego a hospedaria, quase sem fôlego e com falta de ar, parte por culpa da corrida e parte pelo desespero de achar que algo de mal havia acontecido à ela.

- Por favor, Sra.Mcloud, me diga, onde que a Srta. Katherine McTyler mora, preciso vê-la para saber se ela está bem depois do que aconteceu com o tio dela. – Falo ofegando para a dona da hospedaria, quase sem conseguir ordenar os pensamentos.

- Acalme-se Sr, acalme-se! Ela mora a duas ruas daqui, naquela direção – apontando para o lado norte da vila - em uma casa pequena, com alguns arbustos ao redor da casa, não tem como errar.

Mal deixei a mulher terminar de falar e fui correndo na direção indicada, precisava vê-la a qualquer custo, ter certeza de que ela não havia se machucado.

**

Realmente não havia como errar, a casa era meio isolada das outras, e completamente cercado de arbustos de azevinho, havendo uma pequena chaminé no alto do telhado de onde saia uma fina fumaça branca. Era, apesar de tudo, uma casa simples, construída em madeira, havendo uma janela lateral a direita da casa.

Conforme fui me aproximando, fui diminuindo o passo, tentado me acalmar para que, se acaso ela estivesse em choque, eu pudesse confortá-la.

Deu para ver pelas sombras geradas pela lamparina, que ela não estava sozinha em casa e quanto mais me aproximava, mais pude ouvir que estavam discutindo.

Instintivamente diminuí ainda mais o passo, não querendo ser notado, fui me aproximando lentamente da janela da casa, e me abaixei por entre os arbustos, tentando ouvir o que conversavam, querendo saber se Katherine estava em perigo.

- O que você quer que eu faça, Katz?! Eu não tenho como abandonar essa vida! Olha o que aconteceu com sua mãe a anos atrás! Eu não posso parar enquanto não acabar com...com...com essas coisas! – dizia uma voz grave, soando um pouco irritado, e ao mesmo tempo determinado, nervoso.

- Mas pai, olha o que aconteceu com a mamãe, e agora com o tio, por que a gente tem que continuar com isso, nós temos que parar!

- Eu não posso parar enquanto não encontrar quem fez aquilo com ela, você sabe muito bem disso, e havia prometido me ajudar a encontrar.

- Eu sei muito bem que prometi, e por isso não te abandonei até hoje, levando embora a pequena Sissy, mas novamente levaram alguém que próximo a nós, vai esperar que aconteça o mesmo com Sissy? – dizia Katherine, impacientemente e chorando.

- Não! Isso NUNCA, não vou deixar que nada aconteça com você ou com a Sissy, isso eu prometo à você! Mas sem sua ajuda, eu não vou conseguir seguir a diante...eu preciso da sua ajuda Katz.

- Está certo pai...está certo, me desculpe, realmente não há como parar, isso sempre vai nos encontrar, não importa aonde nós estivermos, sempre estará atrás de nós, e nós sempre estaremos atrás deles.

- É, infelizmente eu acho que você tem razão, querida. Você sabe o que nos tornamos e o que precisamos fazer, não há como parar agora....

- Um dia isso vai parar...

sábado, 7 de março de 2009

" I remember a time
My frail, virgin mind
watched the crimson sunrise
Imagined what it might find
Life was filled with wonder
I felt the warm wind blow
I must explore the boundaries
Transcend the depth of winter's snow"

Dream Theater - A Change of Seasons

I - Esperança

Estava frio quando as primeiras estrelas surgiram no céu, uma fina garoa batia em meu rosto, fazendo parecer que iria congelar a qualquer momento. Lembro-me que tudo que queria era chegar ao “McTyler’s Tavern”, um pequeno bar do vilarejo, onde as pessoas iam em noites como essas para desfrutar de uma boa cerveja e comer um ótimo pernil de porco assado. Eu pessoalmente, acostumado com o que alguém de minha posição social podia desfrutar, nunca achei que a cerveja fosse tão boa, ou o porco tão suculento como aquelas pessoas simples achavam. Mas de qualquer forma, eu não iria esse noite para apreciar os “comes e bebes” do local, não...não era por isso. Iria lá somente para tentar vê-la novamente.

Avisto a taverna de longe, sinto um arrepio na espinha, acompanhado de um frio na boca do estomago. Recordo-me que me perguntei se era devido ao frio intenso, ou se estava novamente passando por “aquilo”. Apenas sorri, eu já sabia a resposta.

Entro na taverna, e a primeira coisa que penso é “aqui definitivamente servem porcos”, não que a taverna fosse suja, mas se fosse comparar aos lugares que eu poderia estar agora, definitivamente esse lugar seria chamado de pocilga.

Olho a minha volta, as poucas mesas perto da lareira a esquerda já estavam ocupadas, sobrando somente uma mesa, escondida no canto direito da sala, longe do balcão. Sento-me à mesa, o frio insistente não passa, penso já ser loucura vir a um lugar como esse por alguém que mal sabe que existo. Não a vejo em lugar algum, hoje quem atende os pedidos dos clientes é um velho senhor, aparentemente tão velho quanto as pedras que essa taverna foi construída, e no balcão uma jovem garota, talvez neta do ancião.

Espero por um tempo, o frio cada vez mais incomodo, resolvo chamar o ancião, esperando que o vinho da casa seja melhor que a cerveja experimentada na noite anterior.

Ergo a mão ao notar que o velho passa por perto, tentando ser notado.

- Com sua licença, Senhor! – falo timidamente, mais para mim mesmo do que tentando chamar a atenção de alguém, porém o velho consegue me ouvir. Juro que me surpreendi...

- “Com sua licença, Senhor”? – tão surpreso quanto eu, quando descobri que ele me ouvia – Definitivamente você não é daqui, meu jovem, e a julgar pelas suas roupas, tão pouco deveria estar aqui. Mas, já que não estou aqui para saber quem você é, ou de onde vem, o que deseja?

- Sim, não sou daqui, Senhor. Vim do condado vizinho, estou só passando uns dias no vilarejo, antes de voltar para casa.

Menti, eu realmente não era desse lugar, mas não havia como, simplesmente, eu dizer ao velho que tinha viajado duas horas a cavalo somente para ver a garçonete que havia visto na noite anterior, quando havia chego a cidade para recolher os impostos.

- Poderia me trazer um pouco de vinho quente? Estou congelando aqui. Ah! Um pouco de pernil também será bem aceito.

Realmente eu estava congelando ali, e como estava tarde para cavalgar de volta para casa , resolvi que seria melhor me aquecer por um tempo, antes de tentar achar uma hospedaria, se é que havia alguma nesse lugar.

- Trarei sua comida assim que for possível, jovem. Falou o velho, já se afastando.

Observei o velho atravessar o salão, movendo-se vagarosamente, como se cada ano de vida pesasse toneladas sobre seus ombros. Senti uma certa pena do ancião, tendo que trabalhar até essa idade, sem ter uma expectativa de melhora na vida. Mas meus pensamentos foram afastados quando o velhinho chegou à porta que dava para a cozinha, depois do balcão. Ela estava lá, na cozinha. Pude vê-la só de relance, por um momento achei que meus olhos estavam me traindo, mas não, tinha certeza que ela estava lá, ao vê-la, não pude conter um sorriso. Agora só restava saber como falar com ela.

*************

Passaram-se um bom tempo até que o vinho e o porco chegasse a minha mesa, nesse tempo, pude vê-la mais duas vezes, sempre muito rápido, quando ela ia até o balcão entregar um dos pedidos ao “atendente”.

Já estava ficando tarde, estava perdendo as esperanças de falar com ela essa noite, mas de repente tive uma idéia, só não sabia se seria uma boa idéia.

Chamei o “garçom” novamente:

- Velho, poder vir aqui? Disse um pouco mais alto que da outra vez.

- “Velho”? Vejo que o vinho já esta fazendo efeito, jovem. Pode me chamar de McTyler, sou o dono dessa taverna.

Disse o velho, sorrindo um bocado. Talvez o vinho havia feito efeito nele também.

- Poderia me trazer mais vinho e pernil? Realmente está muito delicioso! Quem fez essa carne? É uma das mais gostosas que já experimentei.

Exagerei um pouco, tentando parecer convincente.

- Trarei sua comida, garoto. Quem fez essa carne foi minha sobrinha, filha mais velha de meu irmão, Katherine é o nome dela.

- Realmente é muito boa comida. – disse suavemente – Será que teria como eu falar com a cozinheira? Eu conheço pessoas da realeza, por assim dizer, e poderia leva-la para trabalhar para algum nobre, na cidade.

O velho olhou-me com caras de poucos amigos e resmungou entre os dentes.

- Trarei sua comida daqui a pouco, mas não espere levar minha Katherine para lugar nenhum, está entendendo?

Notei certa fúria em seus olhos, imaginei quantos aproveitadores já havia usado de “estratégias” parecidas para conseguir algo com ela.

***************

A taverna foi se esvaziando, na verdade só havia dois bêbados e eu. Estava empanturrado de porco e vinho, quando a porta da cozinha se abriu novamente.

Era ela, linda, mesmo para alguém que trabalhou em uma cozinha a noite inteira, sem descanso e privada do sono. Seus cabelos loiros e lisos brilhavam num tom dourado sob as luzes das lamparinas. Era alta, magra, com seios fartos, lembro-me até hoje que seu decote me hipnotizava tanto quando seus olhos verdes.

De repente, ouço um barulho em minha mesa, acordo de meus sonhos. Era o velho, que estava parado à minha frente, e nem sequer percebi que ele havia se aproximado.

- Vamos garoto, está tarde e já estamos fechando. Você disse que não é daqui, então, o máximo que posso fazer por você, é indicar a hospedaria que fica na maior casa, a direita daqui. Se tiver sorte de achar um quarto onde consiga dormir, aproveite, mas agora, você deve sair.

Peguei algumas moedas e coloquei sobre a mesa, enquanto o velho já “corria” para ajudar a sua “querida Katherine” com um dos bêbados que não acordava. Aí tive uma idéia.

Removi meu anel, o anel de minha família, um anel de prata com o símbolo da família Reid incrustado. Pensei novamente que já era loucura demais, mas ao mesmo tempo era mais forte do que eu, era algo que eu precisava fazer, e com isso, deixei meu anel em cima do banco, saindo da taverna em seguida.

Fui para a hospedaria...

Não me recordo muito bem como cheguei na hospedaria, nem como entrei no quarto, só me lembro que era um dos piores quartos que dormi em minha vida. Com seus colchões de palha fedendo a mofo e com famílias inteiras de pulgas vivendo neles, e somente algumas peles de carneiro para aquecer do frio. Com certeza o efeito de algumas doses do vinho me ajudaram a dormir naquela noite. Inacreditavelmente dormi bem, aliviado por vê-la novamente, e ao mesmo tempo me sentindo um idiota por ter largado o anel da família a troco de “nada”, ou ao menos assim eu pensava.

Pela manhã, acordo com batidas em minha porta, penso por um instante que alguém deveria criar uma lei contra pessoas que acordam as outras sem solicitação, e que a pena deveria ser passível de decapitação.

Cubro a cabeça com o travesseiro de penas, mas as batidas na porta continuam, incessantemente.

Levanto-me furioso.

- Já vai! Já vai! – falo praticamente gritando, e abro a porta.

- Desculpa se vim em má hora, Senhor Reid, mas creio que isso lhe pertence...

Era ela...com meu anel.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Prefácio

Venho aqui escrever uma breve introdução do que poderá ser encontrado nesse blog. Não há intensão nenhuma de que alguém reconheça o que for escrito como “bom”, para falar a verdade, não espero que muitas pessoas venham a ler ou comentar.

Pretendo, sem muita pressa, contar à vocês a história de Thomas Reid, Katherine McTyler e Christopher York, assim como apresentar novos personagem com o decorrer da trama.

Quero deixar claro que nada do que estiver escrito aqui foi planejado, simplesmente sento ao computador, e vou escrevendo o que me vem a cabeça, as idéias aparecem na hora, não fico “perdendo” horas e horas pensando no que escrever.

Acredito que pouquíssimas pessoas irão ler essa história, e esses poucos que lerem devem ser meus amigos mais próximos, então para que a coisa fique um pouco mais divertida, pretendo criar um personagem para cada um de vocês, nem que seja só uma “participação especial”, ou para alguns uma posição de maior importância. Vamos ver se conseguirei fazer isso.

Vocês já devem estar falando “chega de enrolação, sobre o que vai ser essa maldita história?”. Então vou tentar falar um pouquinho sobre o que se passa na minha cabeça.

A idéia inicial é escrever uma história baseado no “Mundo das Trevas”, da Editora White Wolf ( espero que eles não leiam isso, senão serei processado =D ). Para aqueles que nunca ouviu falar do “Mundo das Trevas”, vocês poderão se basear no filme “Underworld”, só para ter uma idéia de mais ou menos como o mundo funciona, porém quero evitar cair no clichê “Guerra Vampiro X Lobisomens”, mas de qualquer forma, será um mundo como dessas duas referências que falei.

A história começará com Thomas Reid, ainda em 1237, e mostrará como e porque ele se tornou o que viria a ser nos dias atuais, mas não se desesperem, não pretendo contar 700 anos de história. Na verdade, essa parte “antiga”, será mais uma introdução mesmo, sem muito aprofundamento, já que não ficarei pesquisando fatos históricos, ou como era a vida na época.

Chega de falatório, senão o texto de hoje vai ficar muito grande, e vocês pararão de ler na metade. Vou só agora apresentar a vocês os dois personagens principais dessa primeira parte.

São eles, Thomas Reid e Katherine McTyler

Nome: Thomas Reid

Idade Aparente: 28 anos

Data de Nascimento: 24/01/1237

Local de Nascimento: Inglaterra

Aparência aos 28 anos - 1,88m, magro, sem sinais de aptidão aos exercícios físicos. Cabelos negros e bem aparados, olhos azuis claros, sem barba, notadamente membro da burguesia local. Facilmente notado em festas da nobreza, sempre despertou interesse e cobiça das donzelas, sendo tratado como “o genro que toda sogra gostaria de ter”, devido a grande riqueza, beleza, respeito e compaixão aos menos afortunados.

Nome: Katherine McTyler

Idade Aparente: 23 anos

Data de Nascimento: 31/12/1242

Local de Nascimento: Escócia

Aparência aos 23 anos “Reais” – 1,73m, Magra, possuindo seios fartos, e corpo que rivalizava com as mais belas nobres da corte. Tinha cabelos loiros e lisos, olhos verdes esmeralda. Possui uma marca de nascença com o formato de uma cruz em sua nuca.

Camponesa, morava com o pai superprotetor em um pequeno vilarejo. Trabalhava parte do tempo em casa, ajudava na criação de vacas e parte da noite ajudava na taverna de seu tio. Muito educada e tímida, ficava envergonhada a cada olhada que recebia dos fregueses da taverna, porém sabia se defender, se fosse necessário.

São esses os personagens iniciais.

Dentro dos próximos dias terei mais a escrever, já iniciando a história.

Agradeço aqueles que irão ler, estejam cientes que podem tirar dúvidas, elogiar, xingar ou o que quiser nos comentários.

Abraço a todos.